terça-feira, 10 de agosto de 2010

Sobre amigas e cura...

Era julho de 2008 e naquela noite as sombras se tornaram mais escuras por assim dizer. Despedi-me de meu pai justamente da maneira como nunca pensei que seria capaz: vi seu último suspiro espalhar-se pelo ar e juntar-se a toda a atmosfera, primeiro do hospital e suas dores, depois da cidade e seu caos e em seguida do universo e suas cores. Observar seu corpo sem vida foi menos doloroso do que eu imaginei que seria, mas ainda sim fui acometida por uma apatia profundíssima, e sequer fui capaz de chorar nas horas que se seguiram. Os papéis, a família, os amores, os amigos, as flores, os sons, os silêncios, os olhos marejados, os abraços e as palavras tomaram conta do imenso vazio que me preenchia naquele momento. E assim as horas foram passando até que, enquanto olhava para as pedras do chão, vi no começo da rampa do velório despontar a figura de uma velha amiga, que vinha com uma sacola de plástico nas mãos com alguns biscoitos e sucos. Aquela cena me lembrou dos nossos ensaios na adolescência que duravam o dia todo e dos encontros que tínhamos na escola para prepararmos alguma festa ou alguma peça. Sempre levávamos lanches e ela, em especial, levava um lanche de frango que sempre vinha na sacola de plástico branca. Exatamente como aquela que estava trazendo, quase dez anos depois, ao velório do meu pai. Aquela cena me trouxe de volta a vida, porque de alguma forma consegui me sentir de novo depois daquelas horas de vazio profundíssimo. E a partir daquele momento comecei a enxergar de fato todos os amigos que estavam ali presentes, todo o Amor e a Compaixão que me envolviam, porque quando não sabemos o que dizer, normalmente expressamos com muito mais eficácia o Amor ou qualquer sentimento. E ali começou um processo de cura para mim, porque a superação da morte de um ente querido é um processo longo e dolorido, mas fica muito mais fácil quando começa. O problema é ele não começar.

Esta semana recebi um e-mail de outra grande amiga falando de “amigas que curam”, e este e-mail descrevia um estudo realizado no Canadá falando que a amizade entre mulheres não só ajuda na auto-estima ou no reforço da identidade da mulher, como também é decisivo na recuperação de traumas e perdas, e tudo embasado em questões hormonais que não ocorrem entre os machos de nossa espécie. Achei belíssimo o e-mail e fiquei feliz de saber que existem pessoas ocupadas em pesquisar sutilezas tão importantes para nós quanto a qualidade do ar que respiramos. Mas quer saber? Pouco importa se este estudo é verdade ou não, o importante de tudo isso é que esta amiga da sacola branca é uma das cinco estrelas que tenho no peito e uma das que forma esta constelação que é este blog. E como hoje é seu aniversário, resolvi postar esta homenagem, porque um dia seu gesto mais simples foi capaz de me acordar de um torpor profundo e me fez muito bem, e o eco desse bem reverbera em mim até hoje.

Que todo o bem retorne pra você, Ka!

Parabéns pelo seu aniversário e por ser esta pessoa linda por todos os lados!



Namastê



Dani Ferrari

Nenhum comentário:

Postar um comentário