Já passava das 20:00hs de ontem quando eu e o Paulo (meu amado namorado) voltávamos do curso de inglês. Em Julho, período de férias escolares, as ruas parecem ficar mais vazias, mas a linda noite em quarto crescente convidava para uma caminhada a dois.
Descendo pelas ruas do bairro da Vila Mariana, nos despedimos em uma das esquinas sob a recomendação de todas as noites em que nos vemos: “Amor, vai com cuidado e assim que chegar em casa me ligue ok?”.
Ele seguiu para sua casa e eu segui para minha, na região da Vila Olímpia.
Descendo a pé, avistei 02 meninos em uma esquina, parados e encostados no poste que indica os nomes das ruas Pedro de Toledo e Otonis. Me mediram, cochicharam e pensei comigo: “Xi, boa coisa não é... Ow Ale, olhe o preconceito, são dois meninos, que horror! Esse mundo está perdido mesmo, desconfiamos da própria sombra e as vezes à toa!
Continuei caminhando cantando em voz alta, rsrs, comecei por Samurai do Djavan, e depois Malandragem da Cássia Eller. Cantar enquanto ando é um hábito meu, até porque assim, parecendo que estou falando sozinha, rsrs, é bem como o ditado diz: "Quem canta os males espanta!"
Ao chegar na Avenida Ibirapuera, próximo ao Parque das bicicletas (região inclusive pouco iluminada) os 02 meninos me abordam correndo: “Entrega a bolsa!” e eu “Mas eu não tenho nada, o que vocês querem? Comida? Dinheiro?” “A bolsa dona, dá a bolsa senão nóis te fura!” Já ofegante, ainda assim tentei negociar, mas um deles encostou um objeto em mim que não sabia ser verdadeiro ou não, nem quis pagar para ver. Entreguei a mochila, onde havia apenas (acreditem se quiser) meu material do curso de inglês, meu bilhete único de estudante e meu RG.
Ao ver os dois correndo com a minha mochila na mão, como num golpe de coragem e de indignação, me pus a correr atrás deles gritando por toda Avenida Ibirapuera: “Polícia, polícia, policiaaaaaaaaa!! Parem esses dois, eles levaram minha mochila, policiaaaaaaaa!!”
Não sei se pelo baixo movimento ou se pela força da minha voz, ecoava pelo bairro inteiro meu clamor!
Foi então que aconteceu algo que me deixou muito, mas muito surpreendida – um rapaz, cidadão comum que seguia para sua casa depois de um dia de trabalho parou ou meninos, pegou minha mochila e o revólver de plástico que estava com eles. Cheguei segundos depois, juntamente com 02 carros de mais 02 cidadãos comuns que encostaram seus carros no meio fio para me ajudarem. O rapaz que os abordou primeiro ao me ver perguntou: “É sua essa mochila?” e prontamente respondi “Sim, eles me abordaram lá na frente do parque das bicicletas.”
Com a maior cara de pau, negaram o tempo todo ter tomado a mochila de mim, afirmando que um homem havia deixado cair no chão, por isso pegaram. Eu olhei bem na cara deles e disse: “Vão estudaaar, vão pra escola, pra ser alguém tem que estudar!!”
Tomados de raiva, os rapazes acuaram os meninos contra o muro, cutucaram, deram tapas na cara dos meninos, joelhadas na bunda deles, um deles tentando me acalmar me deu seu cartão dizendo ser advogado caso eu precisasse de algo.
Fizeram um mutirão gritando para que a viatura de polícia que passava parasse e eu fizesse a ocorrência.
A essa altura, juro mesmo, não sabia mais se eu sentia raiva ou dó dos meninos...
Eles não conseguiram levar nada, fui mais rápida. Acho que participar de maratonas me ajudou a correr tanto!
O Policial então deixou que eu escolhesse o que fazer: liberar os meninos ou ir até a delegacia e registrar a ocorrência, sob a ressalva:
“Sinceramente Dona Alessandra, são menores, não utilizaremos de violência com eles e eles não conseguiram efetivamente furtar a senhora. Não vai dar em nada.”
Deprimente. Indignante. Respirando fundo e devagar fui recuperando o estado normal. Policial me ofereceu carona ate a minha casa, mas recusei. Agradeci, atravessei a rua, entrei no primeiro ônibus que vi e fui embora com a minha mochila.
Lamentável vivenciar o que já percebemos há muito tempo, nosso mundo está doente… Que mundo estamos deixando para nossas crianças? Que crianças estamos deixando para o mundo? Que raio de problema social é esse que parece não ter solução?
EDUCAÇÃO é o nome dessa solução E-DU-CA-ÇÃO!
E de verdade? Termino aqui o meu B.O cantando de onde parei a música que eu estava cantando antes de tudo isso acontecer, desejando de coração que o destino desses meninos seja melhor.
Abraços fortes,
Alê Gomiero
“Eu só peço a Deus um pouco de Malandragem, pois sou criança e não conheço a verdade, eu sou o poeta e não aprendi a amar. Quem sabe ainda sou uma garotinha…”
Nenhum comentário:
Postar um comentário